MISSÕES E COMPAIXÃO DE CRISTO

11-08-2010 13:36

 

Em certo sentido é correcto dizer-se que as missões cristãs são uma resultante da compaixão de cristo para com os homens. Olhando para as multidões, Ele as viu como ovelhas destituídas de pastor. Todo seu ser se agitou pelo desejo de ajuda-las. As escrituras dizem simplesmente que Ele se moveu de íntima compaixão.

As definições de “íntima compaixão”, encontra-se nos dicionários, que admitem como sendo sentimento de simpatia ou de piedade, são demasiadamente inexpressiva, para traduzir-nos a ideia que o Novo Testamento encerra em sua plenitude. A palavra grega traduzida por exemplo fazia referências às entranhas, e vísceras, ou ao coração, de modo a conter a impressão vivida de um sentimento deveras profundo, ou mesmo de certa dor de coração. É algo mais do que mero sentimento interior. É amor e simpatia oriundo de tal profundidade, que quase chega a produzir um fortíssimo impulso, causando até dor, para que seja feito o possível visando a minorar o sofrimento que se apresente ou que se contempla.

“ Deus amou o mundo de tal maneira…que deu” (João 3:16), é a explicação imorredoura, é a base da salvação que desfrutamos. A compaixão divina se tornou amor em acção, amor que culminou nos acontecimentos verificados por ocasião do nascimento de Cristo, em sua morte, e em sua ressurreição.

“ Compaixão” é a palavra humana que implica em correspondência de natureza fisiológica. Como é que tal palavra poderá ser usada com propriedade, relativamente a Cristo? Talvez nos seja possível obter a compreensão disto, se nos lembrarmos de que “ O Verbo se fez carne”, (João 1:1), isto é, o Filho divino tornou-se, também, o homem, Cristo Jesus, Deus em Cristo procurou anular o abismo existente entre Ele próprio e o homem, tomando sobre si mesmo nossa natureza. “Não temos um sumo-sacerdote que se não possa compadecer das nossas fraquezas” (Heb 4:15). Uma palavra como “compaixão” nos ajuda a aquilatar como foi que o Filho de Deus que se fez carne, na verdade teve a compreensão mais cabal das necessidades humanas.

Em Cristo, a visão das necessidades de todos os tipos – físicas, mentais e espirituais – provocava-lhe verdadeira agitação no processo de sua simpatia e de sua piedade e suscitavam-lhe o mais irrepreensível desejo de proporcionar alivio aos sofredores. Lemos: “E ele, ao desembarcar, viu uma grande multidão; e, compadecendo-se dela, curou os seus enfermos.” (Mat 14:14). Ainda outra vez: “Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.” (Luc 15:20), Jesus sugere, mediante esta narrativa, que o Pai Celestial dá atenção ao arrependimento, como aquele pai mostrou-se atencioso às necessidades do prodígio que voltara, isto é, com evidência de compaixão e de amor.

 

COMPAIXÃO EM FACE DE AFLIÇÕES FISICAS

Dois cegos, assentados à beira do caminho, ouvindo que cristo se aproximava deles, puseram-se a clamar: “e eis que dois cegos, sentados junto do caminho, ouvindo que Jesus passava, clamaram, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de nós.” (Mat 20:30). A multidão impaciente os repreendia, impontando-lhes que se calassem. Mas, os necessitados insistiram a clamar por misericórdia. “E Jesus, movido de compaixão, tocou-lhes os olhos, e imediatamente recuperaram a vista, e o seguiram.” (Mat 20:34). Assim é que o Novo Testamento prossegue, oferecendo-nos exemplos e mais exemplos. Mais do que uma razão Jesus tinha, certamente, para proceder como procedeu, mas é claro que a razão primordial para os prodígios de cura que Ele realizou encontra-se na íntima compaixão que sentia. Os indivisíveis sofrimentos que há neste mundo ainda permanecem clamando para que a compaixão cristã se faça evidente.

 

COMPAIXÃO PARA COM OS FAMINTOS

                                                                                                                             

Não foram apenas as aflições físicas do tipo de que acaba de ser escrita que concitavam o Senhor Jesus a exercitar sua compaixão. A fome, também lhe despertava grande interesse. As multidões que o seguiam por vários dias consecutivos, também tiveram experiencias relacionadas com a sua terna compaixão. Em pelo menos duas ocorrências, isto é, no caso dos cinco mil e dos quatro mil que foram por Ele alimentados, encontraram evidências do interesse revelado por Jesus para com os famintos. Ficamos a pensar no que Ele certamente haveria de dizer-nos, caso estivesse falando a seus discípulos de hoje, quando vemos tantos milhões a morrerem em estado de inanição ao nosso redor. A razão apresentada pelo próprio Jesus para providenciar a alimentação para os famintos encontra-se registada em Marcos… 6:35-48 e 8:1-9. “Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que eles estão comigo, e não têm o que comer. Se eu os mandar em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho; e alguns deles vieram de longe.” (Marcos 8:2-3). Muitos que procediam de lugares longínquos tinham estado tão absorvidos no que lhes dizia e tão enleados pelas esperança que Ele lhes despertava que não desanimaram de segui-lo, a tal ponto de ficarem exaustos. Jesus sabendo disto, ficou movido de profunda compaixão para com eles.

 

Muitos missionários e Juntas Missionarias têm experimentado, com frequência, uma compaixão semelhante para com os famintos e destituídos de recursos, em varias parte do mundo, em têm estado na vanguarda entre aqueles que tudo fazem para minorar a fome e proporcionar novas esperanças aos desvalidos. Numa época como a actual, quando o mundo se vê a braços com o problema do transbordamento populacional, algumas considerações são de molde a divertir-nos que a produção alimentícia vai se tornando mais e mais insuficiente para a população. Alguns chegam a profetizar que cerca de quatro bilhões de pessoas tendem de perecer de fome, antes que se atinja o fim deste século, a menos que alguma ocorrência misteriosa seja logo realizada, resultando em muito maior incremento da produção alimentícia do que se verifica actualmente. Os crentes, dotados de compaixão semelhante à de Cristo, não podem ficar impassíveis, contemplando à distância e desinteressadamente tal conjuntura.   

    

COMPAIXÃO PARA OS QUE SOFREM TRISTEZA E PERDA DE ENTES QUERIDO

 

O interesse profundo de cristo não se limita somente aos que amargam as necessidades físicas, como as da fome, ou as que provem de aflição física mais profunda. A compaixão de Jesus também é demostrada às pessoas prostradas pela dor e pela saudade de um ante querido que partiu para a eternidade. Observe-se isto, por exemplo, no caso da viúva de Naim. Também no que concerne às duas irmãs, Marta e Maria. Ao se dirigiram para o tumulo onde jazia o seu irmão, Lazaro, Jesus se mostrara tão profundamente comovido pelo sentimento de perda que elas manifestavam, que, também ele, chorou. Desde aquele incidente, tem acontecido frequentemente, que, muito outro crente atingido por esse mesmo género de provação, têm obtido conforto e experimentado tranquilidade em momento de grande tristeza, como acontecera àquelas duas irmãs, tão somente por se lembraram daquela cena. Jesus bem sabia o poder que possuía e, que logo haveria de operar a ressurreição de Lazaro. Não obstante, ele chorou. Começa-se a compreender quando profundamente consternado o Salvador se encontrava em face da imensa dor que prostrava as suas irmãs de Lazaro.   

 

COMPAIXÃO EM FACE AS NECESSIDADES DE ORDEM INTELECTUAL E ESPIRITUAL

 

Jesus revelou que uma parte bem expressiva de seu ministério consistia em pronunciar alivio aos oprimidos por necessidades físicas e aos amargurados pela dor da privação de entes queridos.

Mas do que isto, Ele se mostrou inconformado, face as necessidades espirituais dos homens. Marcos oferece-nos este significativo relato: “E Jesus, ao desembarcar, viu uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas.” (Marcos 6:34).

 

Mateus adiciona em seu relato que o Senhor tinha outra razão para mostrar-se tão comovido: “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não têm pastor.”(Mateus 9:36). O quadro que a linguagem do texto original grego, nos apresenta através dos ver ciclos citados, é de um povo torturado, importunado e confundido, por aqueles mesmos que deveriam ministrar-lhes o melhor ensino; um povo impedido de entrar no Reino de Deus, sobrecarregado pelas exigências que os fariseus lhes imponham…(eram como homens lançados por terra e prostrados ao chão…em estado de destruição mental segundo o grande helenistas Robertson). Mathew Henry faz a seguinte exposição do texto: “Eles careciam de ajuda para suas almas e não encontravam nem uma pessoa idónea a que poessem recorrer. Os escribas e fariseus os saturavam de noções sem conteúdos espirituais; sobrecarregavam-nos de tradições dos antigos e embaraçavam com muitos enganos. ” assim sendo, nem Roma com os seus cultos pagãos prestados a pessoa do Imperador ou as Ídolos, nem Israel, seriam capazes de proporcionar-lhes melhor esperanças. Em meio à confusão, e sofrendo entrechoques de forças contraditórias de carácter religioso e político, eis que aquela multidão se encontrava em situação deveras trágicas, desesperadora, não muito diferente da condição em que se encontram as massas humanas nos dias atuais. Necessitavam dos ensinos, e Jesus bem o sabia. Tresmalhadas, como ovelhas sem pastor; vexadas e atormentadas por tradições opressivas e por exigências penosas, impostas por escribas e fariseus; os indivíduos tornaram-se, finalmente, exaustos adquiriram real desconfiança com relação aos líderes religiosos     

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